Memórias 208 O nascimento de um filme meu
Talvez seja necessário compreender o nascimento de um filme meu. Nunca nasce em linha reta e é uma gestação complicada pois envolve desde música de Bach a livros, colagens, animação, o espaço e muito uma insistente procura do belo, mesmo no feio como é o caso de OS PRÍNCIPES em que o produtor perdeu as imagens que eu havia pedido para guardar num HD. Produtor né? Para outros realizadores basta pegar uma ideia ou um livro e ilustrar o que seja com algumas imagens comuns como na TV. Pode até dar certo, e pode não dar. Mas filma-se o feijão com arroz não muito bem temperado. Mas me fica sempre um estado de incompletude decepcionante. Aí fico com o documentário onde você vai buscar o que muitas vezes não domina, filmando muito! O filme vai sendo construído na medida em que é feito, e por fim na ilha de edição. Para mim no caso da ficção existem muitos caminhos. No meu caso específico primeiro a procura da singularidade de uma ideia solar. Depois a vontade, o pensar, o mergulho no tema, o estudo, o olhar, o tempo, as imagens, o agenciamento sempre do pouco dinheiro, a construção do roteiro, os atores, os ensaios com as improvisações, a paixão e por fim o olhar de cada realizador. A ficção é uma construção dramática delicada pois não é uma fala a ser descoberta, mas a poetização de uma construção já feita no roteiro. E do roteiro ainda no papel as imagens o infinito movimento do imaginário a ser comprimido em poucos minutos como nos curtas, ou dilatado em horas como nos longas. Pouca gente sabe mas o CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL eu o pensei como um longa de muitas horas dividido em três partes:Filmei a primeira que era a chegada do capital estrangeiro na indústria nacional. A segunda seria um greve numa multinacional nos Anos de Chumbo. E abandonei a terceira que seria a construção teórica de um Golpe de Estado, mas com tudo se passando nas entranhas das personagens. A ficção me serve muito como um grande espelho de múltiplas constelações de intensidades. Pena estarmos enclausurados entre o país, a burocracia, as traições e a velhice. (P/ Melissa Vaz) Luiz Rosemberg Filho/Rô