Memórias 210 Fernando Campos

15.09.2018

Não fui tão amigo do diretor Fernando Campos, como eu gostaria de ter sido. Quando nos encontrávamos bebíamos uns copos onde estivéssemos e batíamos bons papos. O convidei para fazer uma ponta na CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL e ele apareceu elegantérrimo de terno e gravata. Na minha opinião Fernando talvez tenha sido o nosso melhor roteirista pois tinha uma cabeça com milhões de ideias e fez um longa genial chamado VIAGEM AO FIM DO MUNDO! Foi o seu genial roteiro do LADRÕES DE CINEMA que me inspirou a topar fazer com o seu grande ator Luthero Luiz O $ANTO & A VEDETE. Fernando era uma cabeça pensante requintadíssima e sempre fumando muito. Cuidadoso com o cinema a seu modo, mas sublime. Como muitos um dia me perguntou se eu nunca havia tido interesse em contar uma história comum com princípio, meio e fim! Repeti como resposta o que Godard havia respondido sobre o seu genial OS CARABINEIROS: "O filme tem princípio, meio e fim, mas não necessariamente nessa ordem". O mais importante penso que não é a ordem, mas o real investimento na imaginação da desconstrução e reconstrução original das ideias. Fazer pensar o estranhamento me parece mais justo e interessante que ver e esquecer tudo no dia seguinte como nos faz viver noventa e nove por cento do cinema de Hollywood. Adoraria filmar algumas peças teatrais de autores que eu amo como Tchekov, Strindberg, Ibsen e o nosso Zé Vicente. Fiquei encantado de ver o Piccolo Teatro do Giorgio Strehler na TV com O CEREAL. Virei mundos e fundo e consegui uma linda cópia em VHS da RTP que foi levada num assalto num cineclube em Botafogo. Brasil né? A câmera não é o palco mas dá um valor sensível ao ator. Ora, o que são os Closes? Fixar a imagem num rosto é seguramente sim, uma infinidade de paisagens. Também não creio que delimitar um espaço no enquadramento de um filme seja limitar o movimento criativo do ator. Eugenio Barba diz que o ator oriental busca na imobilidade o seu movimento interno criativo. Um pouco como fala o mestre Straub se referindo a poesia: " Não é com palavras poéticas que se faz poesia." Ou seja, procurar o cinema além do engessamento do Kapital! (P/ Dr. Roberto Gil) Luiz Rosemberg Filho/Rô

Dr. Roberto Gil