Memórias 213 Fui ver e viver a alegria de um cinema que estava proibido aqui.
Desde O JARDIM DAS ESPUMAS adotei para com o cinema uma via negativa e uma outra utópica com relação às possibilidades da comunicação e do saber. Sabe-se bem que nunca se quis um país pensado e menos ainda gostado. Mesmo o "Ame-o ou Deixe-o" era mais uma provocação fascista que um entendimento de Brasil. E com a intensificação dos horrores parti para viver um mínimo de liberdade possível. Fui ver e viver a alegria de um cinema que estava proibido aqui. Proibições que só produziam ódios, medos e insatisfações. A nebulosa ordem do verde oliva mamava e mandava para que nada fosse mexido. Foi um privilégio ter pulado fora. Fui entender melhor o imperialismo como força destrutiva e as muitas aberrações do stalinismo. Fora e mesmo dentro nunca quis ser de nenhum partido. Preferi descobrir Beethoven e Brecht. Mergulhei em Camus e conheci Godard me apresentado por Glauber. Amei quando vi o seu CARTA A JANE, que nunca passou aqui. Mesmo depois da tal de Abertura, deles! O Brasil viveu e vive em crise. Crise essa que não faz gozar. Por isso é que de certo modo amo o Anarquismo, Artaud, Satie, Orson Welles, Antonioni e Bergman. Ter visto nos anos 70/80 um cinema sem censura, foi sim viver num pedaço do paraíso. Por fim o presente me revelava uma outra feição de civilização. Nada perfeita mas longe da nossa burrice tropical. Hoje já é mais fácil ser deste ou daquele partido; difícil é ser GENTE! Difícil é gostar, amar e gozar no permanente florescimento dos afetos e onde o desafio é ser feliz. Historicamente os Anos de Chumbo deixaram perdas, dores, tristezas, pessimismos e mesmo esse senhor Temer! Mantê-lo no poder é manter a desvalorização da palavra VIDA! E também nas artes queremos um outro Brasil! Não o país da degeneração do humano, mas sim da ética e estética dos sonhos! Oswald de Andrade, Glauber Rocha, Zé Celso OFICINA e muitos outros nos ensinaram o caminho. Agora é só seguir em frente! (P/ Cláudio Kahns) Luiz Rosemberg Filho/Rô