Memórias 218 O que me fez pensar em voltar foi o SÂO BERNARDO do Leon.
Eliot dizia que: " a poesia pode comunicar-se antes mesmo de ser compreendida." É como eu gostaria que fossem vistos os meus filmes: sem uma só certeza diante de muitos caminhos possíveis. Quando eu falei isso ao Novais Teixeira ele riu. Novais era um meteoro brilhante de certezas. Ter estado com Tonacci e eu em Paris ao mesmo tempo, foi sim uma experimentação de longas conversas, dúvidas e bom vinho. Eram o fim dos anos 70 e como diria Godard: "Era uma época estranha , onde eu me dizia: mas o que se pode fazer? Tínhamos feito tudo. Foi preciso que viesse 68, um pouco para varrer a poeira." Eu havia deixado para trás um Brasil feio e violento. Eu queria ver a história do cinema e consegui na terra do PIERROT LE FOU. Fui apresentado a Godard no Café Danton em frente a metrô Odeon, por Glauber. Ficamos um bom tempo conversando mas disse depois a Glauber, que certas pessoas o melhor era conhecer o trabalho. Senti que nenhum de nós estava relaxado. Pedi a Godard para ver seus filmes da fase Maoista, e ele me deixou vê-los numa moviola no seu escritório uma sala cheia de cartazes ocupando todas as paredes. Sempre fiz questão de ter poucos amigos. Ainda mais no cinema onde vive um show infinito de egos. Fora o velho/jovem Novais tinha o Antônio Luís que depois fotografou o CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL com nada, o Cláudio Kahns e os cineastas que iam passando por lá: Joaquim Pedro, o Jabor e sua linda mulher e o Nelson Pereira que estava montando o seu TENDA DOS MILAGRES. Como eu nunca fui arroz de festa, gostava e gosto do isolamento. Lá fiz alguns roteiros como exercício. Adaptei o CORIOLANO de Shakespeare, um conto do SADE, um média que não consegui filmar chamado NOUS e sonhava em filmar A FILOSOFIA DA ALCOVA do SADE. Imagina! Fiquei enlouquecido quando vi AS MÃOS SOBRE A CIDADE do Francesco Rosi com Rod Steiger acho eu. Mas minha viagem idealizada a GOTHAM CITY do querido Jards Macalé foi ter visto o genial AMOR LOUCO do Rivette com muitas horas. AMEI! Outro filme que me deixou louco foi ICE do Robert Kramer. Mas o que me fez pensar em voltar foi o SÃO BERNARDO do Leon. Hoje me permito achar que o cinema feito no passado era bem mais interessante. Mesmo os meus longas acho que os melhores pararam na CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL. Sou mais conhecido pelos últimos, mas prefiro os primeiros. (P/ Antonio Luis) Luiz Rosemberg Filho/Rô