Memórias 223 A imperfeição criativa
Hitchcock dizia que para ele "cinema era sala cheia". Entendo pois era o seu momento de consolidação na indústria do entretenimento. Também nada contra se o cinema industrial fosse pautado na sensibilidade do velho mestre do suspense. Amei o seu JANELA INDISCRETA e gostei muito de alguns dos seus filmes. Significa dizer que deram dignidade a um tipo de cinema industrial também necessário. Mas que não seja vazio, truculento, oportunista ou cópia de Hollywood. Aí vou ficar sempre com o que já se fez de bom no nosso cinema. Como realizador de muito filmes/pensados gosto da imperfeição criativa, das muitas impurezas, do poema sujo que é o nosso país, do permanente confronto com o fácil, dos nossos infinitos sonhos eróticos vividos, da fecunda inspiração das nossas mulheres, da importância do nosso Anarquismo, da nossa eterna idealização de um outro Brasil, sem Golpes de Estado sucessivos! Queiram ou não temos uma história de resistência ao fascismo empresarial, político e mesmo religioso. Pena que haja no cinema tantos picaretas, oportunistas e sem talento algum. E isso vê-se logo nas imagens reduzidas a cartões bostais. Acho que foi em SAGARANA que li: "Quanto mais ando querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago." Sempre fui muito crítico ao nosso cinema comercial que é fraco. Não precisa ter um texto profundo de um Tchekov, mas também não sem consistência como das novelas da TV. Só quem gosta de se alimentar de lixo no país são os empresários, burocratas e a classe política formada pela religião e pela CIA. (P/PH SOUZA) Luiz Rosemberg Filho/Rô