Memórias 224 Com Glauber em Paris
Um dia depois da exibição da CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL no Hotel Meridien em Copacabana, meu saudoso amigo e crítico Jaime Rodrigues me perguntou para quem eu fazia cinema? Nem pensei muito e respondi na lata: - Não era pelo dinheiro, pelo sucesso e menos ainda para os críticos. Mas pela necessidade. Anos depois em Roma, vi Antonioni que eu sempre amei como cineasta na TV respondendo a mesma pergunta. Só que indo mais longe dizendo "que fazia cinema para que a vida e mesmo o cinema fossem mais belos". Como cineasta gosto de vagar por espaços, palavras, livros, músicas e outros corpos. Verdadeiramente nunca me preocupei de não ser simpático, bonzinho ou puxa-saco. Não gostar de mim e do meu cinema é um direito inquestionável! Agora me censurar, me prejudicar morre para sempre! Corto sem problema da minha existência junto com a sua sombra! E não faço a menor questão de ser gostado. No que dançou acabou! Morava em Paris no Hôtel Du Levant, e Glauber que havia chegado foi morar no mesmo andar alguns quartos depois. Ele havia abandonado por brigas internas, um filme que havia iniciado no Chile, mas que não rolou como ele queria. Caminhávamos por Paris e conversávamos muito. Bem, lançaram nos dois cinemas Luxemburgo I e II o seu CABEÇAS CORTADAS, e o LEÃO DAS SETE CABEÇAS. E repentinamente Glauber sumiu! Pensei que tivesse ido para Roma. Um dia saindo do meu quarto para comprar jornal, vi a porta do quarto que estava Glauber meio aberta. E com o pé delicadamente empurrei a porta. Lá estava Glauber sentado na cama com barba por fazer e a maior bagunça em volta da cama. A primeira pergunta que lhe fiz é se ele estava doente! Disse que não e me mandou entrar. Entrei, sentei e ele me disse que está puto da vida! Perguntei o motivo e ele respondeu: -Você viu meus dois filmes no Luxemburgo? Respondi que havia visto e gostado. Aí ele me mostrou o jornal Le MONDE com uma crítica negativa do Louis Marcorelles. Perguntei-lhe: - E daí? Se você não gostava da crítica no Brasil, por que levá-la a sério aqui? Levante faça a barba e vamos comer com você pagando!" Ele riu, foi se banhar e na volta do banho disse que eu não levava nada a sério. Resposta: " -Levo mas muito poucos críticos." Trabalhei no INC com todos e os conheci bem. Nunca quis intimidades e com uns nem cumprimento até hoje. Saímos rindo pelas ruas e fomos comer uma boa carne num restaurante Argentino! (Em memória de Jaime Rodrigues) Luiz Rosemberg Filho/RÔ