Memórias 227 GOZO/GOZAR
Orson Welles dizia: "Sou um experimentalista por natureza. Não acredito muito em proezas." Nesse sentido a história do cinema é sim marcada por vastos territórios da beleza. Digamos que o criador permanentemente diante das dúvidas se reformula seguidamente do entendimento do seu ofício, a dinâmica de novas dúvidas, e dívidas. Cada avanço é uma soma de pequenas unidades de contradições. Nesse sentido o pensamento flui de Mozart a Brecht. De J.S. Bach a Godard. Enfim, a riqueza da desordem como uma sensível postura da criação e da arte. E muitos são os caminhos. Até mesmo o artístico não-artístico como foi lido e filmado o monólogo de Luciana Froes em "GOZO/GOZAR". Curiosamente o filme foi sendo descoberto e realizado na medida que era feito sem roteiro algum pré estabelecido. Tínhamos o discurso e nada mais. E dar expressão ao "nada mais", é que era o problema. O grande Lupercio Bogea o montou com a inquietação de um grande artista se procurando num labirinto infindável de pensamentos, referências e trabalho. Ou seja, não nos interessava mostrar os horrores de uma guerra, e sim o antinaturalismo de imagens frias que servem a uma crítica política da violência. Violência que tanto serve ao poder como a religião e a comunicação. E uma vez incontrolável como nas guerras e Golpes de Estado, servirá como espetáculo para não-ética de Hollywood. E interessa salientar as altas somas de dinheiro investido em repetições, cópias e espetáculos para Idiotas! A violência não só virou um real instrumento de intimidação como patrimônio de interesses não muito claros. Penso no suicídio de Walter Benjamin, na loucura de Artaud e na morte de Andrea Tonacci. Poetas em permanente estado de insurreição silenciados por uma soma de atos de violência. E para fechar com Artaud, uma pérola sua: "O fato é que eles não sofrem e que eu sofro, não apenas no espírito, mas na carne e na alma de todos os dias." Tá dito tudo. (P/ Zeca Brito) Luiz Rosemberg Filho/RÔ