Memórias 229 Com Maurício Gomes leite em Paris
Nos anos de Paris nunca procurava as pessoas, nem era procurado. Sabia pelos poucos amigos (sempre!) quem estava na cidade e deixava-os numa boa pra lá. Muito curiosamente um dia chegando no meu pequeno quarto recebi do porteiro um bilhete do Maurício Gomes Leite querendo marcar um café. Maurício era um crítico que eu gostava de ler quando me caia o jornal nas mãos. Escrevia super bem, e amava meus velhos mestres. No Rio nunca nos falamos pois se não estou enganado não gostava do pessoal do Muniz Viana. Nos encontramos num fim de tarde no Café Cluny. Ficamos um tempo nos olhando sem nos falar até que eu iniciei a conversa: - Vi o teu VIDA PROVISÓRIA e gostei bastante. Mas me dizem que o teu curta sobre o Carpeaux ainda é melhor! O que você tá fazendo aqui? Riu e respondeu: -Você sabe que eu não gostava de você pelas tuas ligações com o INC. Mas não te conheço né? E você aqui nem me procurou. Mas soube que você foi jantar duas vezes com o Embaixador Paulo Carneiro, pai do Mario. Não vi o teu JARDIM DAS ESPUMAS, mas por que não nos falarmos? Ri e falei: -Não posso falar mal do Muniz pois me ajudou num momento difícil e nunca me pediu nada. Aliás, me pediu muito educadamente para botar a sua linda senhora D. Amiris num roteiro que eu queria filmar, acabou lendo, gostando e o perdeu. Era uma adaptação do PROMETEU ACORRENTADO. Nunca mais vi esse roteiro pois não tinha xerox. E que eu também não gostava de algumas pessoas que trabalhavam lá. Mas como funcionário eu falava educadamente com quase todos, mas que não eram meus amigos. E com relação a ele Mauricio eu amava a sua tradução de À SOMBRA DO VULCÃO do Malcolm Lowry. Bem ficamos conversando por um bom tempo e ele me disse que lá estava por uma Paixão terminada. Mas que ele continuava gostando. Paixões são sim mortais! Parece que trabalhava com o embaixador pai da ex-mulher. Disse-lhe para voltar para o Brasil pois nossas mulheres estavam ainda mais belas, doces e mais inteligentes que os homens. Não o convenci. Soube algum tempo depois não me lembro se já no Brasil, que ele havia falecido. Me lembrou muito o consul Geoffrey Firmin personagem de À SOMBRA DO VULCÃO, livro que saiu agora numa nova tradução do poeta Leonardo Fróes. Leitura obrigatória! Luiz Rosemberg Filho/Rô