Memórias 241 A respeito do filme "IMO"
Vi no Festival Ecrã a fúria inovadora de uma jovem talentosa e ousada que chega para romper linguagens, ideias comuns e espaços. Sua essência em seu primeiro longa é a observação do feminino sem o feminismo partidário ou egóico. Suas personagens todas mulheres parecem fantasmas conhecendo os espaços de uma casa, pouco importa onde. Também pouco importa que não seja realista ou mesmo falado entre as personagens. Sua riqueza é ser ímpar mesmo no mundo das mulheres. "IMO" é um filme sem concessão alguma ao mercado. Isso significa dizer que vai além da fantasia ou mesmo do arbítrio onde o próprio movimento dos corpos acontece no silêncio das suas imagens. O pequeno/grande filme não se familiariza com nada que vem sendo feito no nosso cinema. Suprime o fácil e joga-se nos corpos que por último parece o prato principal de homens feios e brutos que acabam morrendo envenenado pelo sangue tirado da barriga da mulher que está na mesa nua. Ou seja, mesmo o exprimível comporta muitos julgamentos e associações diferentes. Bruna Schelb Corrêa da materialidade simbólica as suas muitas mulheres usando o silêncio como fala. Inexiste um percurso, uma lógica ou mesmo um tempo. "IMO" é um filme de momentos de alguns ferimentos no entendimento dos encontros imaginados, sonhados ou mesmo vividos. Curiosamente me pareceu um ferimento não cicatrizado. A sequência da mulher nua na mesa cercada de comidas e homens comendo e bebendo lembra muito o cinema de Buñuel onde a superfície é colocada como fundo e onde o verdadeiro e o falso se confundem. Bruna faz um cinema corpóreo onde o corpo de suas mulheres rasgam o fácil como significado narrativo. Fiquei pensando no filme muitas horas depois. E pouco importa que essa não seja uma análise precisa. Foi onde eu consegui chegar! Claro que outras análises de "IMO" vão vir. É um filme/infinito no tempo e no espaço. Para um primeiro filme é muito ousado. CONTINUE! Luiz Rosemberg Filho/RÔ