Memórias 249 Ainda sobre o JARDIM DAS ESPUMAS

30.09.2018

Quando fiz O JARDIM DAS ESPUMAS, maluco foi a palavra menos dura que ouvi. O resto era brabeira dos amigos, inimigos e produtores. Foi preciso que o Glauber o visse na Cinemateca do MAM, para que aceitassem com menos rigidez o filme. Afinal do Glauber todos se cagavam de medo. Nós mesmos na época do JARDIM, estávamos brigados por eu trabalhar no INC. Mas ao ver o filme convidado pelo Echio Reis que havia feito um papel no seu genial TERRA EM TRANSE, me deu um demorado abraço, me pediu para mostrar o filme para o pessoas do Living Theatre e o indicou para uma das mostras do festival de Berlim. Bem, aqui o filme rachou opiniões mas eu fui embora levando o filme para Europa. Soube pelo Carlos Fonseca que no INC todos haviam detestado, inclusive ele. Eu sabia bem o que tinha feito e fui em frente. Sempre achei que não gostar era um direito mas não queria ouvir as agressões pois sabia que era um filme do tempo, e não do momento. Acho que o Eduardo Escorel fez uma crítica simpática no Pasquim. Lá fora o filme também foi odiado, mas eu já esperava isso pelo uso dos desfiles nazistas. Como me disse Glauber: "era um filme abusado sem fazer média com ninguém", mas que ele gostava. Me fez um texto lindo para eu levar pra Berlim, mas eu o perdi! A exibição para o Living também rachou feio. O Julian Bech não gostou e a Judith Malina amou. Hoje o filme é referência de uma época triste. Pode-se ver bem os anos 70 ali! Convidei algumas pessoas para vê-lo na Cinemateca de Paris, mas as poucas pessoas que foram não gostaram. Queriam algo de mais valor imediato. A poética das contorções e dos gritos incomodaram muito. Por incrível que pareça era um filme sem a camuflagem do espetáculo, tropical e bélico. Um filme sobre a guerra que se vivia no continente, aqui e sujo! Uma sujeira que servia ao momento pois era uma operação cultural delicada sobre sequestros em plena ditadura! Vendo-o em Ouro Preto num telão, acho que foi mexido na sua montagem inicial na Europa. Mas como o negativo foi vendido, é o que tem. Tenho orgulho desse trabalho e o homenageio nos PRÍNCIPES. É o passado e o presente se fundindo pois a merda é a mesma piorada! Luiz Rosemberg Filho/RÔ