Memórias 273 Descobertas

08.10.2018

Ser jovem depois de não ter tido infância alguma por problemas grave de doenças é uma alteração real na vida de qualquer um. Mesmo Novais Teixeira, Glauber e os que por Paris passavam, não entendiam muito bem a minha necessidade de isolamento. Não era mal-estar crônico, mas a procura do meu eu! Desde a adolescência sempre fui assim: na minha! Sonhava em restaurar um outro passado além dos anos de imobilidade, claro sem sucesso. O passado não volta! Estava "casado" mas vivia só pelos cinemas, livrarias, museus e cafés. Descobri Satie, Sade, Rodin e Molière. Pensei muito em adaptar O BURGUÊS FIDALGO para o cinema, sem sucesso. Tive um acidente com o vidro de um janelão que caiu de um hotel, e por pouco não perdi um dedo da mão esquerda. Aproveitei a nova imobilidade necessária para reler O TEATRO E O SEU DUPLO do Artaud. Vi uma peça linda e muda de seis horas do Bob Wilson e me encantei com o trabalho o Piccolo Teatro de Milão com a sua montagem de O CEREJAL. Anos mais tarde fui a São Paulo ver no Municipal O ARLEQUIM SERVIDOR DE DOIS PATRÕES do Goldoni pelo mesmo grupo do Strehler. O Tonacci que foi junto saiu encantado. Ainda lá fora descobri a peça O TEATRO CÔMICO também do Goldoni que era considerado o Molière da Itália. Com o Piccolo vi ATORES no esplendor pleno da criatividade, amadurecidos pelo tempo e pela prática, tornando-se jóias raras! Se pudesse veria muitas vezes mas tinha pouco dinheiro pra gastar. Amei lá fora descobri Strheler, Carmelo Bene, Rivette do AMOR LOUCO e Rodin. A sua escultura PENSAMENTO e a CATEDRAL me fizeram voltar ao museu muitas vezes. Eu queria adaptar para o cinema A FILOSOFIA NA ALCOVA e desisti pois me desmotivaram. Aí fui adaptar CORIOLANO do Shakespeare que enviado pelo correio para o Brasil. na volta nunca chegou! Décadas depois o achei num sebo e comprei. Ou seja, comprei o meu próprio trabalho faltando algumas poucas páginas. Morei num pequeníssimo hotel quase todo ocupado por negros americanos que tocavam jazz nas noites de Paris! Muitos papos sobre LSD e a guerra do Vietnan. Não encontrei uma só pessoa defendendo a presença americana lá. Ainda bem que saíram com o rabinho entre as pernas! Perderam né? Paris não era o paraíso, mas aqui seguramente era a anti-sala do Inferno! Fui ficando né? (P/ Jovem TALENTOSA Bruna Schelb Corrêa) Luiz Rosemberg Filho/RÔ.