Memórias 275 A nova geração de cineastas

08.10.2018

Sei que tenho o hábito um tanto quanto medieval de só trabalhar com as pessoas que eu conheço. As estrelinhas e galãs nunca me despertaram o menor desejo. Nem sempre é possível, mas faço o que posso para mantê-los próximos dos meus projetos. Sei também que saber ser plural é melhor, mas não sei ser. Penso que na escassez de talento que vive hoje o nosso cinema, desempenhar bem é hoje um milagre pois tudo infelizmente vem da TV. Não culpo só os atores, mas muito os roteiros que na ficção são pobres. Quando estava no INC lia todos os roteiros dos cineastas que me interessavam escondido pois não era essa a minha função, e era proibido! Bobajada mas segue sendo assim até hoje. Na França tem uma publicação de roteiros permanente no L'Avant Scene Cinema. Não só deles, como do mundo todo. Eu dava o maior valor a essa publicação e quando gostava do filme e saia publicado eu comprava pois era barato. O respeito que a França dava e dá ao cinema é imbatível! Vê-se tudo. E o que poderia servir de espelho para nós, aqui não faz efeito nenhum. Alex Viany tentou a Biblioteca Básica de Cinema com a Civilização Brasileira mas foi parado. Ditadura e cinema são sim antagônicos! O conservadorismo sempre quis só o mercado & o lucro! Exaltar o saber para eles sempre foi coisa de comunista! Mas não se pode negar que o saber e a experimentação provoquem ainda hoje grandes paixões. Ontem eram Tonacci, Geraldo Veloso, André Luiz, Santeiro, Zé Sette, Joel Yamaji, Jairo Ferreira... Hoje Caio Sóh, João Arthur, Zeca Brito, Thiago Mendonça, Joaquim Castro, Ana Nogueira, Renata Saraceni, Fabio Carvalho, Duda Las Casas, Caio Lazaneo, Priscyla Bettim, Renato Coelho.... A lista felizmente é longa! E não são adversários de ninguém, pois cada cineasta traz dentro de si toda uma época vivida originalmente e potente. São diferentes dos papagaios do cinema de mercado. Como disse Sartre numa resposta ao L'Observateur em março de 53: "O importante não é o que se é, mas sim o que se faz." Fizemos e seguem fazendo! Daí a importância da publicação de bons roteiros: voltar a ler CINEMA de quem o faz! Luiz Rosemberg Filho/RÔ