Memórias 280 O grupo Miguelim

10.10.2018

As imagens fixas e poéticas da natureza e de jovens estudantes em "RIOBALDO E DIADORIM". Da natureza as palavras complexas de Guimarães Rosa. O Rosa de "O GRANDE SERTÃO: VEREDAS" vivido pelo Grupo Miguelim. Entre uma jovem e outra e outros a tela preta que nos faz pensar a falta de sentido para nós que vivemos nas grandes cidades, que nem mais as nossas palavras de origem entendemos mais. Os personagens fixos falam parados, com os movimentos possíveis só vistos e imprimidos ao longe. Próximos falam com poesia no rosto, e precisão no mundo de Rosa: o mundo infinito do sertão! O sertão imenso no doce olhar das irmãs Anita e Marta Leandro. E como não se quer justificar nada o impulso é sim o saber como conceito da criação. O espaço como percepção de poesia e investigação amorosa. Anita e o Grupo Miguelim armam conexões com a formação e educação de jovens, transformando-os em bons atores/leitores da nossa melhor literatura. E à fetichização das muitas imagens que nada dizem do mundo idiota em que vivemos, Anita responde com uma narrativa ou construção reverenciando a precisão materialista (portanto anti-espetáculo) do cinema precioso dos Straub's. E a originalidade está em descobrir em partes vivas e criativas o Grande Sertão de Guimarães Rosa. E se "o capitalismo enquanto tal - segundo Ludovico Silva em A MAIS-VALIA IDEOLÓGICA - é essencialmente produtor de miséria e exploração de mais-valia - Anita confronta com poesia o espaço da terra com signos articulados com o saber. Saber enfrentar o silêncio dos espaços com profundidade. Belas imagens, belos jovens atores em formação e belos enquadramentos. Na minha opinião um tapa bem dado na porca indústria cultural! Acrescente-se a isso a poesia do olhar da realizadora e a imagem espiritual/materialista da irmã Marta Leandro. Ambas nos fazem ver qua a literatura diz o que seja com vivência e propriedade. Da palavra a imagem tem sim na argumentação de Rosa, uma rica odisseia de contradições. A câmera fixa é sim uma espécie de beleza política/poética da imagem captada. Mas não é de modo algum um pequeno-grande filme para preencher imagens ou mesmo conteúdos, mas para expor em profundidade as imensas possibilidades do saber. Saber inclusive ser melhor como ser humano! Parabéns à todos! Luiz Rosemberg Filho/RÔ