Memórias 288 Tenho um velho sonho de filmar monólogos

13.10.2018

O cinema para mim sempre foi um ofício poético entre a teatralidade e o risco. Sei bem que nem todos acreditam no que estão fazendo, mas já aí é tirar leite de pedra. E tira-se! Sobretudo na busca do encantamento com o saber. Enfatize-se não fazer parte das sagradas famílias. E que tirando o cinema documental precioso do João Moreira Sales e da Petra Costa, o resto é resto mesmo! Tô me referindo aos membros das sagradas famílias. Que fique bem claro. Tenho um velho sonho de filmar monólogos, mas ainda não consegui. Se as ficções já são difíceis, imagine os monólogos? Experimentação no Brasil é ainda um espaço de loucos. Sempre lutei muito contra isso, e sigo sonhando com monólogos. Isso vem de longe. Tenho já escritos 3 ou 4. Agradeço a vida ter descoberto Shakespeare, os poucos bons Amigos, Bach, Tchekov, Artaud, Brecht, Zé Celso, Macalé, Oswald de Andrade, Glauber, Mario Carneiro, Godard, Molière, Stanislavski, Mozart, a Análise com o Dr. Walderedo Ismael de Oliveira, a Mulher, o Jazz, Matisse, Orson Welles, Satie, Dom Quixote, Rodin, Antonioni, Harold Pinter, Visconti, Chagall, Nelson Pereira, Rimbaud, Leopardi, Graciliano Ramos, Straub... Não guardo as dores das derrotas vividas, mas ficaram no corpo como cicatrizes. Carrego-as pela vida pois constituem soberbas ultrapassagens! E isso também explica os vestígios da experimentação: são sim os muito desvios necessários para não ficar igual a A, B ou C. Muitas pessoas ainda me perguntam se eu me considero um cineasta de vanguarda, ou não? Rio, e respondo que não sei o que é isso. E acho que a experimentação tendo o que dizer, qualquer um com um mínimo de talento pode viver ou fazer. Não é um clube fechado! Mas muitos que se dizem experimentais fazem um cinema de merda! E isso não só aqui, mas no mundo todo. Minhas relações de amizade do passado são sólidas e profundas. As novas nem tanto. Ter visto Goldoni belíssimamente interpretado por um velho ator do Piccolo de Milão, foi uma emoção inesquecível. Amei e muito próximo da perfeição. Bem, atualmente busco a admissibilidade das impurezas como substância dos meus pensamentos. Com mais de 70 já posso né? (P/ Paulo Mendonça) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Paulo Mendonça