Memórias 292 Desde que descobri o curta metragem, tenho compulsão pela repetição

14.10.2018

Pode não parecer mas desde que descobri o curta metragem, tenho compulsão pela repetição. Planos, sequências e mesmo curtas que são diferentes se "repetem", só que falando de coisas diferentes. Ou seja, a repetição como linguagem na via da mensagem indireta. Sei que nunca pude fazer cinema para o grande público pois sem dinheiro não tem mais milagre. Mas também não o faço para o meu umbigo! Faço cinema para que a vida seja sim bela e deslumbrante. E se possível também criativa e ousada. Que possa ser pensada, transformada e gozada. Gozada no sentido da transcendência do ato do gozar. O gozo como a presença possível da superação do Bode! Ou ainda o abandono do comum e um mergulho fundo na poesia. Não da arte pela arte, mas a arte pela vida! E reproblematizar a própria existência buscando mais respostas sem perguntas. E desdobrar as dúvidas começando pelo próprio fim. A repetição pode aí servir para fazer-nos pensar no estranhamento como crítica ou superação das nossas muitas certezas. Como seria um filme sobre a memória de tempos embaralhados? Como retornar do embaralhamento para o real através da estranheza da não linearidade? Godard com o seu cinema da expressão a uma presença crítica e poética da política. Não essa nossa vagaba, mas sim a política das contradições e da real inteligibilidade dos muitos discursos. Aqui ainda se faz e se fala de Golpes de Estado, de roubar o dinheiro público, torturar se necessário, censurar e mesmo trair e matar. Tal prática mostra a nossa gigantesca pobreza usada para a manutenção do poder, na eliminação do humano sentido da vida. Ou seja, não se transcende nada! E na não transcendência a repetição como exposição da exploração da força de trabalho. O trabalho como deformação de mentes e corpos alienados pela máquina de produção e consumo de quinquilharias para o mercado. Usa-se então a repetição como crítica do baixo uso das relações de trabalho, as muitas guerras que se repetem pelos séculos! Luiz Rosemberg Filho/RÔ