Memórias 300 A LUTA pelo meu cinema

17.10.2018

Nenhum ser humano pode sequer imaginar o que foi lutar só 21 anos contra a censura nos Anos de Chumbo, e menos ainda um primata nos dias de hoje. Não tenho boas recordações de nada e poderia ter desistido em algum momento dessa luta desigual! Tive problemas sérios com quase todos os longas. Menos com "DOIS CASAMENTO$" e o "GUERRA DO PARAGUAY". Também os roteiros eram mais brando e os tempos pareciam ser outros! Eram experimentos sérios só que desenraizados de uma história mais imediata. "JARDIM DAS ESPUMAS", "IMAGENS", "A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS", "CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL" e o ainda inédito "OS PRÍNCIPES" são percepções poéticas de variações desendeusadas da nossa triste história. Como bem dizia Oscar Wilde: "Todos nós estamos na sarjeta, mas alguns de nós olha para as estrelas." Era muito o meu sentimento pois censura é sim um esgotamento do diálogo. Autocensura então, ainda é pior pois descobre-se a traição, ou a tentativa dela pelas costas sempre! Claro que os censores, traíras e seus amiguinhos culpam sempre o realizador que não soube se relacionar com o lixo do poder, da burocracia ou mesmo com os que se acham São Salvadores do cinema com muito ou pouca "nota"! Equívocos do fascismo reinante da política golpista à cultura. Que me desculpem os amigos e mesmo os inimigos, eu tenho horror e nojo dessa gentalha! Tenho marcado na minha própria história esses 21 anos de luta! Tive que me reinventar muitas vezes sem ajuda de canto algum. Eu é que sei o que vivi! E quando o filme ficava todo interditado sem motivo algum, a crítica como sempre se acomodava e dizia que o problema era meu. Ou seja, quem brigou por todos os meus filmes fui eu mesmo mais alguns poucos amigo, e sem abrir mão de continuar fazendo e pensando além da mesmice. E disso eu me orgulho muito pois não fui babar no saco de nenhum crítico. E com isso também os entendi melhor: vi logo que não eram cartas do meu baralho! E fui em frente contra tudo e contra todos. Os filmes ficaram e a mídia passou. E só fiz tantos filmes (tô com mais dois já todos rodados, um com a doce e genial artista plástica Bia Carneiro, e o outro com a atriz e professora Helena Varvaki), por que tive verdadeiros amigos que não traíram! Mais que amigos irmãos por quem sempre tive admiração e respeito. Mas quem se lembra hoje do nome de algum censor ou traíra? Envelheceram expostos ao ódio e aos horrores de vidas medíocres. Por todos os meios usaram a truculência, a má-fé e o poder que tinham para anular potências e caminhos criativos. Vingaram-se da criação impondo cortes, injustiças, traições e proibições num fascismo disfarçado de DEMOCRACIA! Mas onde? Minha herança no cinema brasileiro foi ter de lutar sempre sem mamãe ou papai contra tudo e todos sem ser o Super Homem. PHODA! (P/ Caio Lazaneo) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Caio Lazaneo