Memórias 303 A busca pela construção das imagens

Muito raramente vê-se nas imagens cinematográficas o necessário exercício do pensamento. O problema é sério pois ao não serem pensadas acabam funcionando apenas como uma espécie de eletrochoques de certezas no olhar do espectador. E na falta de densidade as imagens passam a balizar o nada do nada como ideologia. É interessante voltarmos a pensar no brilhante uso da imagem pelo trio Vertov/Brecht/Godard pois as tornam vivas e significativas. Eu pensei e vi muito isso nos meus anos de ausência do Brasil: uma busca por uma outra construção das imagens, sempre além da própria imagem. Digamos que isso era sim o oposto da caramelização do olhar meloso prostituído do cinema de mercado. Muito raramente vi imagens pensadas vindo da TV. Sensibilidade ali não entra. E o que se enxerga é pura ideologia de consumo. E, é um pouco dai da dúvida que parto para pensar na criação das nossas imagens. Tanto no "JARDIM DAS ESPUMAS" como no curta "DISCURSO DAS IMAGENS", penso numa construção do pensar além das imagens. O tratamento da criatividade passando sim pela história e pelo saber levantando contradições! Hoje com o digital a preguiça da mesmice voltou a reinar. Todos são cineastas, mas poucos são os bons filmes! A experimentação foi para o espaço. Não se quer mudar NADA! E através das muitas repetições uma soma infinita de "filmes" iguais. Viu um, viu todos com as imagens iguais virando uma espécie de substância tóxica para o olhar. Bem, sempre enfatizei a importância do saber e da história. Mas, não existe um só bom filme experimental sem uma preocupação com a linguagem! E linguagem não é espontaneísmo infantil, mas pensamentos profundos que já devem vir dos roteiros. Alegro-me por não ser igual, nem comum. Quero que as nossas muitas imagens façam pensar ainda nos múltiplos encantamentos da criação e da vida, diante da certeza da morte. E entre um e outro a sólida ponte do pensamento profundo como queria Walter Benjamin. (P/ Paulo Augusto Gomes) Luiz Rosemberg Filho/RÔ