Memórias 306 Teatro Oficina

19.10.2018

Talvez o Teatro seja o único ofício vivido como festa e prazer cujo o objetivo não é trapacear ou explorar, mas dá integridade poética e encantamento a vida humana. Como não reverenciar as eternas Tragédias Gregas, Shakespeare, Moliérè, Tchekov, Stanislavski, Artaud, Brecht e aqui a importância ímpar do TEATRO OFICINA que vem do realismo ao humor político/corrosivo de Oswald de Andrade fazendo da política e do erotismo um ensinamento necessário ao desempenho de um estado pleno de transcendência de nossa má educação pautada na negação do prazer e do gozar. Tô falando isso pois acabei de ver um dos dez melhores documentários do cinema brasileiro ainda em processo de montagem sobre o TEATRO OFICINA, dirigido magistralmente por Joaquim Castro. Filme que vem do início da formação do grupo aos dias de hoje numa espécie de encantamento político/existencial de José Celso Martinez Corrêa. E como cinema, uma sólida viagem na desnaturalização de certezas e medos do fascismo tão presente na vida do país. O início com Renato Borghi, Fernando Peixoto, Eugenio Kusnet, Ítala Nandi, Célia Helena...e uma infinidade de bons atores engajados inicialmente no teatro realista vindo até as rupturas com Brecht e depois Artaud. Um documentário precioso vivo e vivido do teatro experimental mais ousado, raro e necessário ao país. Raiz de toda nossa resistência à cultura burra da mesmice televisiva aceita pelo poder e imposta ao país por 21 anos! Cumpre observar a preciosidade do material, da montagem de Quim e do tanto que vai nos fazer pensar! Como condutor do filme/experimento. Quim rejeita a linguagem fácil e se joga em lembranças embaralhadas fortes e de lindas razões exorbitantes e poéticas. Fazendo do material uma rica viagem no tempo do saber do Oficina. O real e o irreal se misturam em cérebros luminosos fazendo de cada autor uma odisseia ao infinito das possibilidades e dando densidade aos encontros e trocas. Não como fachada política mas como encenação do desejo necessário ao prazer de se ser ainda humano. Quim faz um trabalho de montagem precioso usando e deslocando imagens ao seu tempo como realizador. Um filme sagrado e não religioso que rompe com tudo! Enfim, um filme cósmico sobre o ato de criar em diversos momentos de um grupo eterno no teatro. As imagens de Luiz Antônio irmão de Zé Celso cantando acho que Vicente Celestino é um achado e uma homenagem do grupo e do filme ao irmão assassinado pelo país boçalizado do fanatismo. E também uma tentativa política da superação da dor da perda. Quim parabéns pelo filmaço! (P/ Zé Celso) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Zé Celso