Memórias 311 BACH

20.10.2018

Se a vida tivesse sido feita sem a música seria certamente pobre como a TV confinada no kapital e que onde bota suas patas ou religião apodrece seja lá o que for! A música de Johann Sebastian Bach é sim uma rica alternativa de sensibilidade e linguagem. Não como fórmula de venda, mas como um universo vivo de possibilidade para o pensamento. E por que não pensar o longínquo como muito próximo? Mergulhar na vacuidade da Paixões e se deixar levar pelos sonhos de muitas noites de prazer! Bach nos faz esquecer que um dia não mais o ouviremos como fundamental a criação da obra de arte. Em "CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL" o deixei fluir como cérebro pensante das imagens nem sempre muito claras, mesmo para mim. Tudo foi sendo vivido como uma redescoberta do humano em todos nós. Foi Ruy Guerra quem me disse na saída de uma exibição privada para os amigos no Meridien, que o filme era um réquiem, e nunca me esqueci. Bach sempre me inspirou muito. A ele devo minha insistência em trabalhar a criação de maneira radicalmente poética e diferente das regras do mercado de secos e molhados. Tenho muito prazer em escrever seja lá o que for ouvindo-o como se fizesse parte da evolução da escrita. No cinema junto pedaços de infinitos e caminhos frutos de um saber vindos da leitura e muito do teatro, sem querer fazer um cinema teatral. Mas devo muito a Bach minha eterna perplexidade frente às possibilidades da poesia e da beleza. Penso mesmo que educar pela música pode ser um caminho não convencional a ser trabalhado sem medo de errar. Habilitar seja quem for para a necessidade de experiências além do real. Trabalhar sim a dúvida, e não a as tantas regras reprimidas das certezas. Bach permite a criação muitas liberdades e encantamentos que não mais encontro na política, nem na realidade. Eu tinha na "CRÔNICA" o desejo de alcançar o infinito da sua música. Era sim um pensamento que foi nascendo com a criação e o tempo das imagens. Claro que orientado por um conhecedor do compositor. Vivemos imagens duras do desconhecido a caminho a caminho da "MORTE DO AMOR" em Wagner. A Bach devo esse depoimento amoroso. Luiz Rosemberg Filho/RÔ