Memórias 327 A voz do Tonacci no meu curta HOLLYWOOD SEM FILTRO

26.10.2018

Fragilidades são ensaios de paixão. Me deixo embrenhar em tempos de gozos. Vivi muito isso no velho continente. Vivo isso lendo um bom livro ou mesmo escrevendo um roteiro. Hoje gosto muito mais de ler, escrever e conversar que de ir ao cinema. Pena. Meus velhos companheiros já se foram. Não só aqui como lá fora. Tem aí uma garotada que tá no cinema pela quantidade sem um pensamento próprio original. Não gostam de ler nem de escrever e se dizem alfabetizados pelo mundo das imagens. E outros pelo SACO do politicamente correto ou mesmo pelo sucesso. Me desconheço nessas vertentes. Trabalho em territórios já distantes como o encantamento, a história e o gozo/gozar. Olhando os que nos criticam, dá medo! Como nunca fui próximo da crítica me deixo levar por novos sonhos proibidos. O vento me faz pensar assim como a música clássica. Como seríamos próximos nos momentos desconhecidos da família Bach? Tenho pensado muito em Tchekhov e na perda de alguns amigos queridos. O que me surpreende é não levar em conta que também posso não acordar amanhã! Passei dos 70 e continuo vivendo com meus sonhos proibidos uma vida de 30! Trago na alma o cansaço pelas muitas proibições e traições no trabalho com a criação. E como diz magistralmente Jean-Claude Carrière: "A morte nos espreita a cada instante do nosso percurso. Chegamos a sentir que ela se adianta ao nosso passo, que ela segura nossa mão, que em alguns momentos nos fala em voz baixa." Meu último encontro com o Tonacci em minha casa, foi quando ele me disse chegando da Itália, que vinha para se despedir. Eu não quis entender que era real, como foi pouco tempo depois. Me foi como a perda de um irmão. E claro, o cinema ficou mais pobre. Tive e tenho ainda poucos amigos como ele. Outro dia vi no computador o curta "HOLLYWOOD SEM FILTRO" que gravamos o texto em off: com a sua voz. Curiosa essa tecnologia. Tudo passa muito rápido mas algumas coisas ficam. E no que ficam marcam fundo. Não temos mais o Tonacci, mas temos a sua voz como se estivesse entre nós! Talvez esteja, quem vai dizer que não? Voltando a Carrière: "Nós nos juntamos na fragilidade." Tínhamos um projeto de um longa metragem de uma ficção-científica em três episódios, com o terceiro feito pelo queridíssimo Joel Yamaji. Claro, o filme foi dificultado e brecado pelos burocratas da Embrafilme. Como nenhum de nós era uma fortaleza na picaretagem, não saiu. Fui até tentar buscar dinheiro fora em troca do meu "CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL" e do "A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS" mas não consegui nada. Curiosamente nossos filmes seguintes se chamariam "SERRAS DA DESORDEM" e "GUERRA DO PARAGUAY"! Não nos diz alguma coisa desordens e guerras? (P/Joel Yamaji) Luiz Rosemberg Filho/RÔ