Memórias 331 CAPÔ

27.10.2018

Humano, ético, político, sambista, bem humorado, cozinheiro, divertido, criterioso, sedutor, pensador, sentimental, professor, sensível, escritor, roteirista, teórico, realizador... Maurice Capovilla é tudo isso e muito mais. Sua aspiração é o entendimento e superação política da realidade dando saber e nobreza a análise do real. É diferente mas lembra o cinema de Nelson Pereira dos Santos. Foram amigos né? Vão da erudição à reflexão elevando o cinema não a imundice do mercado, mas a sua superação. Capô fez um cinema sempre autoral e jovem fervilhando de ousadia e afeto. Deveria estar ensinando e filmando pois tem um saber e uma história de vida exemplar. Usou o Brasil como um pensamento solar e revolucionário como resistência ao fascismo do passado e do presente. Não um Brasil para poucos, mas para muitos. Capô é o harmonioso caótico das posições realistas, indo da fome dos profetas a melancolia afetiva da MPB. No JOGO DA VIDA fez uma espécie de análise profunda de seres humanos comuns. Admirável como realizador lutou por um cinema popular também como Nelson Pereira dos Santos. Fizeram um bom uso do cinema no sentido da comunicação. Queriam o público pensante no cinema, evocando seus muitos demônios! Pena que o Brasil seja tão injusto com os que ainda pensam. No entanto Capô é como a natureza que se renova sempre! Mesmo o horror o inspira a superá-lo. E em não sendo só uma coisa como ofício, sabe bem como lidar com os muitos males do sistema de emporcalhamento humano, muito comum na política dos partidos. Quer filmar sim! Mas se a porca burocracia o impede, escreve seu primeiro romance com o som e a fúria do seu saber. Isso não inocenta os hipócritas da burocracia, e o torna essência como exemplo e resistência. Devo confessar o meu respeito por esse admirável resistente aos discursos usuais do fascismo: Sucesso, espetáculo, mesmice e alienação! Capô com seu cinema e sua vida dão dimensão épica a resistência a desvalorização do humano. Em tudo tenta subverter a ordem do pensamento do servo e da fé, pois deus somos todos os vivos! Morreu dançou! Deixou de aprontar né? Viva o fenômeno Capô! Luiz Rosemberg Filho/RÔ