Memórias 337 Não queriamos o mundo ou o universo, mas o Brasil "divíno maravilhoso"

29.10.2018

Sei que o passado não existe mais, mas sei também que passei muitos anos brigando com a censura sem ter conseguido transformar nada! Mesmo o prazer de viver foi torpedeado por proibições, traições, angústias e medos. Mas como aceitar as muitas aberrações de 64 e 2016? Não fui me esconder na traição, nem mesmo na religião. Diferentemente dos traíras do passado e do presente FIZEMOS! Gostem ou não confrontamos velhos e novos bufões por amor ao saber, a linguagem e ao país. Filmes como BANG-BANG, VIAGEM AO FIM DO MUNDO, UM FILME 100% BRASILEIRO, PERDIDOS E MALDITOS, JARDIM DE GUERRA, METEORANGO KID, CÂNCER, JARDIM DAS ESPUMAS... provocaram um sentido jovem a criação de sons e imagens conflitantes. O sentido era a história, mas também o espaço humano do ser digno, criativo e ousado. Não queríamos o mundo ou o universo, mas o Brasil "divino maravilhoso". Glauber foi cantar isso no ousado VENTO DO LESTE do Godard. Não tem nada de idiotismo mas de postura. O bem feito era o mal feito! Queríamos uma nova concepção de linguagem e mesmo de país. O direito de dar a cada um o que é seu. De qualquer modo, tentamos! Mais que isso ousamos. Deixávamos deus de lado e evocávamos a força dos nossos demônios! Tudo isso ainda é bem difícil de entender pois o país voltou a andar para trás. Como acreditar nessa cínica crença do atraso de seres desumanos inspirados pela dor e a morte e não pela vida? E o que significa isso? Nada. De modo algum se pode justificar a morte ainda jovem. Claro que ela virá para todos. Mas enquanto existir vida afetiva e criativa ela é só uma palavra sem plenitude alguma. Como li não sei mais onde : "Esperar um pouco menos, amar um pouco mais." Ou não mais fascistas, truculentos, traíras, hipócritas e covardes. É preciso voltar a conciliar a criação ao prazer! E desse encantamento sublime ao gozar. Devo confessar meu grande empenho nesse sentido solar. Como dizia Marco Aurélio nas suas MEDITAÇÕES: " é preciso realizar cada ação da vida como se fosse a última." E nossa geração debruçou com corpo, alma e saber sobre isso sem ficar na margem da história. Lutamos sempre por mudanças como foco de resistência. Pessoalmente acho uma pena estarmos nas mãos sujas de burocratas, traíras e Leitões. Prefiro voltar ao mundo grego de Édipo, Medeia e Prometeu Acorrentado. São experiências anteriores que ainda nos alimentam de sonhos. Luiz Rosemberg Filho/RÔ