Memórias 338 Meu curta "LINGUAGEM"
Interessante como se movimenta a memória na construção pensada de um filme. Tomo como exemplo meu curta LINGUAGEM. Eu só sabia que como imagem eu queria iniciá-lo num longo plano do quadro de Gustave Courbet: L'Origine du Monde". Depois tinha um grande e impenetrável branco! Resolvi então escrever um texto que foi saindo como pequenas e grandes descobertas amorosas. Surge então a grande colagem/mural que faço a décadas com amigos, família, casamentos, imagens de diretores, filmes, paisagens, pensamentos... No lugar de mostrar individualmente cada um, fiz vários movimentos seguido em Zoom de aproximações arbitrárias. O que pode parecer uma soma de imagens sem crítica, tem na totalidade um fundamento amoroso de querer entrar no sentido e sentimento das imagens. De ser parte de movimentos de aproximação. Os que foram traindo ao longo dos anos, foram sendo cobertos por outras imagens mais significativas para mim. Daí pra frente no filme foram chegando as revoltas de rua, as guerras e por fim a morte como enraizamento de tudo e todos! Tudo cairá um dia no esquecimento. O que, portanto é imprimido faz pensar sim a partir de uma orientação poética problematizada pelo saber e a memória. A voz doce de Priscyla Bettim faz do conceito método de análise. Sua fala é quase um manifesto de alerta aos perigos referentes a uma constante rejeição da Democracia no mundo em que vivemos. O curta vai a um sobrevivente em carne viva de Hiroxima, sendo tratado por médicos. De Hiroxima ao Iraque hoje! Sempre se lucrou muito com a indústria da morte. E temos mesmo entre nós famílias de pangarés a defendê-la! Querem chegar no poder mas são toscos. Deixam perceber o verdadeiro estado de burrice e truculência. Podem vencer na porrada, mas não no humano lado da história e da vida. São analfabetos afetivos! A presença do horror pontua todo o filme. A questão sobre o humano na história é tratada tanto na imagem como nas palavras. Ainda que sejam expressões duras, crescem como verdade e poesia. O filme foi sendo construído por partes contraditórias. O que tem a família e amigos do grande mural com as guerras? Tudo. Foi uma imersão viva na memória de tudo que foi sendo criado das imagens ao filme premiado pelo Canal Brasil. (P/ Patrícia Vilches) Luiz Rosemberg Filho/RÔ