Memórias 340 Por que faço cinema

30.10.2018

Em meio a tanto ódio como refundar uma DEMOCRACIA para todos? Ela ainda importa? De que modo? O poeta Bocage lá no passado dizia: "O que pode contra o Amor a tirania"? Penso num cinema que já foi melhor. Sem 3-D filmava-se lindos poemas em 16mm e até em Super-8! Me lembro dos pequenos/grandes filmes de Jairo Ferreira. Ele os defendia como atos de paixão. Jairo era cineasta 24 horas. Até dormindo sonhava com o cinema. Queria ter feito mais, mas não deixaram. Sonhar no país foi sempre muito difícil pois estamos sempre regredindo a estaca zero. A elite emburrecida não suporta a criação e menos ainda o saber. E o principal exercício de uma não-DEMOCRACIA é sim a ordem militarizada. Mudanças nem pensar! Contudo a história exige mudanças e algum saber. Mas como conciliar os sonhos proibidos necessários ao prazer e ao gozar com a ordem? Por que se faz cinema? Ou melhor, por que faço cinema? Digamos que gosto de trabalhar riscos e sonhos. Amo a palavra pensada na poesia das ideias. Enquadrar uma forte e linda atriz como Analu Prestes por exemplo, me foi como um sentimento afetuoso vivo de imortalidade. Penso isso tendo perdido ontem o cineasta experimentalíssimo Geraldo Veloso. Lutou muito para fazer mais, e também não deixaram. O nosso sistema de produção capitaneado pela burocracia quis sempre investir na mesmice de burros "pensantes". Ou numa multiplicação de boçais, traíras e trogloditas. Essa é a escola da ordem: a disciplina! A conservação do lixo humano. Bem, ninguém é obrigado a ser inteligente e sensível, mas também cultuar a burrice como valor moral, é a morte em vida. É preciso sim uma história nova com espaço para todos. Devo confessar o meu encantamento pelo ato de criar da leitura de livros e documentos, a sons e imagens pouco claras. Um esforço para não ser igual ou comum aos discípulos do kapital. Nosso cinema sempre foi solar carregado de encontros e afetos verdadeiros. Razão que nos guia contra os covardes e traidores. (P/Renato Coelho) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Renato Coelho