Memórias 343 Escrever um bom roteiro é uma coisa. Filmá-lo é outra bem diferente.
Escrever um bom roteiro com imaginação, estudo e profundidade é uma coisa. Filmá-lo é outra bem diferente. É como se das muitas limitações se tirasse o sal da terra. Como não escrevo roteiros lineares ou comuns, dou oralidade pensada aos atores e personagens. É uma anti-tática da sedução barata muito comum na TV. Daí sempre que possível evitar seus "atores". Gosto daqueles que não se pode traduzir pois são muitas coisas. Reivindicam de cada personagem que representam, experiências vivas de infinitos! Conceitos que não se consegue explicar nem mesmo pela crítica de senhores letrados. Foi o caso de Echio Reis no JARDIM DAS ESPUMAS, de Analu Prestes e Nelson Dantas no A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS, de Renato Coutinho no CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL, do Luthero Luiz no SANTO E A VEDETE, de Wilson Grey no VIDEOTRIP, de Ana Abbott em DOIS CASAMENTO$, de Igor Cotrim nos PRÍNCIPES e de Alexandre Dacosta no BOBO DA CORTE que acabamos de rodar. Todos assumindo seus muitos avanços e pequenas imperfeições no esgotamento de uma certa racionalidade contra a logomarca do sucesso fácil. Nem sempre as relações são fáceis, mas fazem parte de suas experiências com uma soma infinita de intensidades. Significa dizer que a palavra experiência é sim infinita! Muito são os seus percursos e desvios. Também nem sempre se consegue o que se quer mas faz parte da estranheza do meu trabalho. Gosto de subverter o real dando dimensão ao fenômeno do não-tempo. E no não-tempo a fantasia é livre! Foi isso que amedrontou os burocratas da já velha Embrafilme frente ao A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS, deixando-o morrer na censura da moral/imoral dos Anos de Chumbo que estão de volta pelo visto. Da nossa parte o que estava em jogo era a liberdade de criar. Amo tudo neste filme, até seus defeitos pela falta de grana! Não entenderam a complexidade dos fatos e o deixaram de lado. Como hoje a Ancine, com os poucos que ainda pensam e ousam no cinema brasileiro. Como na ditadura de 64, querem só o sucesso comportado que não alterava nada. Fazer um cinema pensado era dor de cabeça para todos os lados. Mas é um desprendimento interessante e necessário da ordem. Ordem que serve aos Golpes de Estado e as religiões. Mas nunca a poesia de um filme como nosso BOBO DA CORTE. Luiz Rosemberg Filho/RÔ