Memórias 347 Ainda sobre o BOBO DA CORTE
Sei que escrevi os roteiros da "GUERRA DO PARAGUAY" e do "O BOBO DA CORTE" para ator Alexandre Dacosta. Agora, como surgiram as imagens elegantérrimas do filme se só tínhamos palavras? Eu quis um espaço todo escuro como se fosse uma caixa preta por todos os lados. Um pouco como foi o "DOIS CASAMENTO$". Ora se a caixa preta por todos os lados era como eu via o casamento, no Bobo é uma espécie de noite eterna para um velho ainda que colorido decadente. Mas não uma decadência espetáculo como no cinema de Hollywood. Alexandre Dacosta desenvolve um pensamento original sobre a fantasia, o poder e o envelhecimento seu como personagem. E o faz numa das noites no palácio onde dorme jogado pelos cantos pois nem cama tem. O Bobo é o que faz o poder com o ser humano. No caso do filme ele é impregnado de um estado de interpretação permanente para o seu rei que como Deus, não aparece nunca. É representado pela presença do trono que é cuidadosamente limpado pelo Bobo. Ou seja, o Bobo usa a sua força para um estado de humor forçado. Na verdade estranho. Mais ainda distanciado. Poderia infundir pena, mais vai além pois se nega a ser coitadinho. Me lembro que na época estava fascinado pelo "BURGUÊS FIDALGO" do Molière. Imaginem se teríamos condições de filmá-lo? Então, mergulhei na construção poética do Bobo. Tudo é importante neste pequeno/grande filme. De uma simples palavra a uma barata cercando a cabeça de uma caveira. O roteiro foi sendo construído na medida em que eu lia em casa, cada parte do monólogo. Estávamos todos muito conscientes do que fazíamos do figurino genial de Márcia Pitanga a cenografia também batalhada por ela. Da loucura contida de Alexandre Dacosta a fotografia de Renaud Leenhardt, velho companheiro de muitas batalhas. Com a colaboração afetiva de Eduardo Mariz e Maurício Wanderley. Filmamos com 3 câmeras! Agora o precioso exercício de Lupércio Bogea outro velho companheiro e a direção de produção de Mana Pontez. Ou seja, dos últimos longas é o que eu mais AMO pela ousadia e inventividade Brechtiana das imagens aos sons também de Alexandre Dacosta. Que nos seja uma inquietação fantasiosa rica e por extensão política do despedaçamento do país. Pena. (P/ Cláudio Kahns) Luiz Rosemberg Filho/RÔ