Memórias 348 O enquadramento

18.11.2018

Saber enquadrar bem é uma das forças de um bom cineasta. E isso não se aprende na escola e sim na pintura, na leitura, na música, nos livros e na vida. Pode-se também aprender com os afetos. Muito do que sei aprendi com as mulheres que amei! Foram elas que me ensinaram a olhar. A parar por um bom tempo para olhar a potência dos seios ou mesmo a profundidade visual do gozo que é escultural sem nunca se repetir. Dele todos saímos para redescobrirmos no tempo a sua força, magia, dúvidas e generosidade. Digamos que o cinema também não parte de certezas e sim de dúvidas. Ora, como pensar o enquadramento no mínimo original? Muitos são os que nos ensinam a olhar de Bergman a Godard passando por Antonioni, Welles, Resnais, Visconti... A lista felizmente é longa. Indo bem menos ao cinema que no passado, acho pobre os enquadramentos da geração Digital. Muito raramente deixam de ser televisivos. Tão é verdade que logo passam nela. Se vê TV e muito raramente cinema! Penso que o cinema pode ser melhor e mais profundo pois não é uma produção de pizzas. Cinema e história e memória numa atuação sobre o tempo. Num corpo vivo de contradições. Me lembro bem que o querido Ricardo Miranda num faustoso jantar na sua casa me perguntou como com nada eu fazia enquadramentos tão bonitos e delicados? Eu lhe respondi dizendo que eu partia de um bom roteiro, bons atores, uma cenografia criativa e um bom fotógrafo. Sempre achei um luxo, por exemplo, enquadrar Ana Abbott nos filmes que fizemos juntos! Como diz meu amigo e fotógrafo Renaud Leenhardt, a câmera gosta dela. E enquadrá-la bem é fácil sendo profundo.Penso que é preciso gostar muito da atriz. Visconti ao enquadrar seus atores mostra o seu lado nobre. Ou seja, é preciso gostar, respeitar e amar. No cinema não-comercial não existe enquadramento sem paixão! Que se volte com urgência a pensar e estudar o OLHAR! Luiz Rosemberg Filho/RÔ