Memórias 355 O cinema de invenção

Voltando ao já dito: muitos são os que me perguntam como eu lido com as dificuldades dos meus filmes não chegarem ao público como muitos e ao não sucesso com a crítica oficial. Simples - respondo - não sigo as diretrizes do mercado de alienação! Tanto nos longas como nos curtas nego ao cinema como só sendo um simples rolo de papel higiênico! Muito comum no cinema patronal. E ao desprender-me dessa ordem, o cinema que faço torna-se um serviço prestado ao pensamento, ao saber, ao encantamento e a poesia. Ou seja, um desacordo com o partidarismo do sucesso a qualquer preço, pois nunca vamos ficar sabendo exatamente como o homem faz a história e de como essa história passa a fazê-lo. Fazer o cinema como um ato de invenção vai ser sempre um risco de não ser gostado, e que é sim o mais delicado. Mas faz parte do confronto contra a mesmice. Quem quiser só ser gostado vai ser padre ou pastor! Ganha até espaço na TV! Já o cinema de invenção pensado é sim uma superação da culpa e do medo. E a orientação é sim pela via da desordem, do humor e do antinaturalismo. Ora, de que nos serviria a ordem as tantas transgressões poéticas existentes? Portanto nada de compaixão ou pieguismo mas de confronto com a moralidade/imoral da ordem! Pensar já é estranho no mundo da mercadoria e do sucesso né? Penso sempre em Sade, Artaud, Van Gogh, Brecht, Welles, Godard.... São desprendimentos e vitórias sobre eles mesmos. E justamente representam ameaças pois fizeram da vida grandes gozos, e não intimidações religiosas ou medos. Mantiveram suas posturas até o fim. Desapontaram amigos e inimigos pois foram a frente de seus referidos tempos. E viveram sim muitas insatisfações, censuras e traições. Quem fazendo da criação profundas invenções não as vive? No cinema então, é um prato cheio! Não ser gostado faz parte de muitas partes onde o útil talvez seja expurgar o que está podre para longe. E sem a menor culpa! E sobre o culto idiota da egocentria eu sempre vomitei. Estou sempre entrando em novos caminhos! Claro que o asco dos traíras permanecerá por um longo tempo, mas logo será esquecido pois seu seu voo será sempre baixo! Triste. (P/ O FESTIVAL DE CINEMA DE ITU) Luiz Rosemberg Filho/RÔ