Memórias 374 Regresso aos primeiros passos

03.01.2019

Entre cacos, pedaços e restos a ideia se movimentando a procura de um autor. Como é difícil pensar e pôr de pé uma soma infinita de imagens, vazios e significações simbólicas ou não. Como realizador vago do hermetismo ao erotismo numa emergência visual de tudo! E a imagem como nasce para mim me perguntou um dia Novais Teixeira a quem eu dedique o nosso "A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS"? Ainda penso que ela se constrói numa aprendizagem profunda da história e dos encontros e afetos vividos. Saio caminhando com Rilke e falamos sobre Pessoa. Entendo melhor agora a orelha cortada de Van Gogh. Como dizia Paul Celan: " Eu sou você quando sou eu." Ora, se "o pensamento é intemporal, e quer sê-lo; deseja, num só lance, lançar mil pontes; a coisa última, o objetivo, é para ele o que vem primeiro. A fala está ligada ao tempo, alimenta-se dele, e não pode nem quer abandonar este terreno de que se alimenta: não sabe antecipadamente onde irá dar, porque é o outro que lhe fornece os sinais de orientação (Rosenzweig: 1959). Fiz com Renaud Leenhardt muitos curtas e longas-metragens. E ao 75 anos chego leve a obrigação de fazer. Larguei uma máquina de fazer 1000 pizzas com prêmios e tudo. Tento reaprender a necessária lentidão do fazer nos encontros e afetos vividos. E este regresso aos primeiros passos é para mim um mistério como imagem e energia, pois são substâncias de um mundo já vivido como obra de arte! Ainda assim marcam fundo ainda hoje. Com todo hermetismo para driblarmos a censura dos anos de chumbo, marcamos o tempo passado assimilando-o uma vez mais em alguns momentos de "OS PRÍNCIPES", pensando nos efeitos alegóricos do passado no presente ainda mais feio. Ora, como ainda seguir em frente pensando? O país agoniza entre a traição e o horror! Um grande exemplo é o baixo uso da religião e a "nova" política do ódio e da bala. O novo Titanic é esse Brasil instrumentalizado para o mal. E como sabiamente afirma Benjamin Moser em seu livro "AUTOIMPERIALISMO': "Parecia uma sociedade que nunca se cansara de colonizar-se a si própria. E de encarar sua população e seu território como passíveis de exploração, controle, submissão, violação." TRISTE! (P/ Marilia Alvim) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Marília Alvim