Memórias 384 O verdadeiro criador/artista é um grande negociador de imagens/sons e afetos
Sem um pensamento profundo elaborado o cinema vira nada. No máximo um espetáculo pornô para o mercado do cinema patronal. Engana no autoritarismo mas não marca como formação de sonhos como nas imagens do cinema de Glauber ou mesmo de Nelson Pereira. Ou seja, não são imagens vazias como no cinema de mercado/televisivo, mas associações com ideias e imagens que nos fazem pensar na história e mesmo na vida. Imagens/ideias como tempo/movimento. E ao transpor os limites do fazer/pensar, amedronta! Não pelos muitos conceitos ideológicos, mas por questões de desaceleração do entendimento imediato onde o eficaz é se deixar levar por esta ou aquela linguagem como obra de arte. Digamos, um ato de resistência entrelaçado ao desejo de circular por entre proibições de imagens não muito claras mesmo para mim, como no meu longa "IMAGENS". Foram elas que iam me achando! Volto a viver o processo de me deixar levar décadas depois no curta "AS ÚLTIMAS IMAGENS DE TEBAS". E mais recentemente com a experiência no "BOBO DA CORTE" onde só tínhamos um texto preciso, mas não as imagens em geral escritas num roteiro. A grandeza por parte de todos foi sim mergulhar fundo na experimentação e ousar grandezas e diferenças. Não posso deixar de elogiar à todos e mais os cortes/desconexos do montador Lupércio Bogea, uma estrela solitária numa ilha de edição! Creio que o trabalho de criação só se torna verdadeiramente vivo se ultrapassar uma sucessão de estabilizações muito comuns nas ideias e imagens televisivas. Ou seja, se vai ao infinito e se deixa perder. E uma vez perdido se achar mais forte e voltar mais humano e sensível. Disse uma vez ao Mário Carneiro que o verdadeiro criador/artista é um grande negociador de imagens/sons e afetos. Jamais um traidor de sonhos! Não será nunca um pilantra fixado na quantidade e sim na qualidade dos seus gesto afetivos inseridos nas entranhas dos seus sonhos e imagens.Daí a importância do pensamento profundo e do saber. E para concluir com Artaud: "Desejo de dinheiro, desejo de exército, de polícia e de Estado, desejo-fascista, inclusive o fascismo e desejo." Faz pensar né? (Em Memória do Barão de Itararé) Luiz Rosemberg Filho/RÔ