Pré-memórias 1 Pelos 20 anos da Cavídeo

05.11.2017

PELOS 20 ANOS DA CAVIDEO: Pegar dinheiro do governo, se dizer produtor e fazer merda é fácil. Sempre foi né? Quase todos são assim e muito por isso nunca os respeitei, pois é o estado que banca a pilantragem de quase todos! Pode-se até dizer que é assim no mundo todo. Mas são mesmo produtores ou lobistas? Sabem sim conseguir dinheiro, mas ignoram os múltiplos processos humanos de criação de Welles a Nelson Pereira dos Santos. Pois quando se metem a filmar, só fazem merda. Mas todos são assim? Não. Existem ainda os que correm por fora. Os que sustentam ainda um cinema de postura, transparência e ideias. Um cinema de confronto contra as toneladas de babaquices vindas de Hollywood ou da TV. Falsas ideias de um mundo collorido e feliz. Um mundo sem contradições de fantoches manipulados pela ideologia do capital e do sucesso. E aí tanto corrompem a linguagem, como atores e técnicos. Será que sabem o que são essas coisas? Sensibilidade lhes diz algo? Esse capitalismo burro sempre imperou no cinema, e na porca política do país! Ora, por que teríamos seres capacitados para investirem na liberdade do pensar? Afinal, a liberdade rompe com todo tipo de controle! Seu espaço passa pelo ensaio que caracteriza significações que vão da filosofia a libertinagem como saber e prazer. E não é o prazer que nos ensina a gozar? Penso em Sade. Será que algum lobista sabe quem foi? Por um permanente transbordamento de boçalidades em suas vidas, não lhes interessa o saber e menos ainda a história. Submissos ao dinheiro fácil, só gozam com a conta bancária. E os out-sider? Bem, esses ainda investem nas transgressões, no arbitrário e na beleza da poesia de produção de encontros e afetos. São muito raros nos dias de hoje. Em 70 anos só conheci e defendo dois! No teatro Zé Celso, e no cinema Cavi Borges. Evidentemente que são seres diferentes, mas ambos têm a compulsão pelo saber além da mercadoria e do mercado. Investem no teatro e no cinema como um programa poético de formação não só do corpo, como do olhar e do saber. Corpo e olhar como crença no pensamento! O saber/linguagem como movimentos da dialética e da história. Eis pois a utopia como exaltação da vida. O saber como potência e prazer! Mais Sade e menos rezas! Transgressões poéticas sim! Conformismo não. Importa-lhes o fazer, a poesia, o confronto, a história, o pensar e o gozo! Gozar como estruturação de uma erotização forte da criação sem moralidade alguma. Novos valores a serem cultivados para que o sensível desejo possa ser pleno e para todos! O infinito como começo de uma expansão poética além das muitas oscilações da política feia dos partidos, e da moral/imoral religiosa que nega o gozo/gozar! Acho que com esse curto texto, justifico a importância de Zé Celso, Cavi Borges e os 20 anos da Cavídeo. Que ameaça alguma os diminua nessa persistente busca de inovações! Parabéns por existirem. LUIZ ROSEMBERG FILHO.