Pré-memórias 3 "ANALU"

17.11.2017

"ANALU": Trabalhei e trabalho com muitas atrizes talentosas (todas!) e lindas. Atrizes que se procuram nos espaços das ideias e contradições de um mercado sempre perverso. Ideias nem sempre claras, mas sempre impressionantes e fortes. Só que impensáveis na brutalidade da TV. Mas...sempre vou ter um especial carinho pelo primoroso trabalho de Analu Prestes no nosso "A$suntina das Amérikas". Não era só uma grande atriz a oferecer-se livremente ao personagem, mas nosso desejo de exuberância, impureza e liberdade. E tudo intensamente vivido numa atmosfera pesada de horror e morte da ditadura de 64, e que infelizmente volta a se repetir em 2016. Claro que não é igual, mas talvez seja pior pela podridão das personagens. Éramos jovens e através da juventude marcamos com intensidade nossa presença! Analu como "A$suntina" segue sendo uma aula nobre de intimidades, encantos, ousadias e dúvidas. Falo dela sim com respeito e paixão! Sua personagem odiada pela pobre e empobrecida política cultural da ditadura, se perpetuará na história do cinema brasileiro. E que linda oportunidade de a termos como amiga, atriz e personagem! Revendo o filme hoje, vejo-o como estilhaços na moral/imoral dos homens da lei. É um filme cheio de erros e bons defeitos, mas nada tranquilo ou apaziguador. Foi a nossa rica maneira de resistir aos tantos bodes da nossa política oficial Também me permito achar que sem a Analu, o filme seria outro. E como atriz assumiu magistralmente essa sua personagem, como uma rica experiência anti-clichê. O queridíssimo e saudoso Nelson Dantas, muitas vezes me perguntou: " -Onde você descobriu esse tesouro?" Eu a vi e amei em Paris interpretando Brecht no Grupo do Pão e Circo" e escrevi para ela a personagem, que como atriz encantou a todos de Sergio Santeiro a Joaquim Pedro. Menos claro, os fétidos burocratas da Embrafilme. Ousaria dizer que Analu é arte em estado bruto, pois faz muitas coisas criativas ao mesmo tempo. E bem né? Passei o filme sem legendas na Universidade de Berkley, e todos amaram o dilaceramento enlouquecido dessa então ainda jovem e querida atriz! Como no Brasil tudo estava proibido, Analu foi para o filme e para nós, não só talento em estado pleno, como uma significação de resistência e crença na vida! Lindona como atriz, personagem e mulher é o contrário de todas as certezas, mas um deslumbramento de dúvidas que carregará sempre o nosso e o meu coração. Vida longa para essa grande MULHER!