Memória 197 A irreligiosidade de Camus, Nietzsche,..., me levou a descobrir o processo criativo

02.09.2018

Gosto muito de ficar só pensando na vida. Como trabalho com muitas pessoas diferentes ao mesmo tempo, é no isolamento que me recomponho das tantas e tantas batalhas perdidas. No meu início lá nos anos dos hospitais, estive completamente só comigo mesmo. Ouvia muito rádio e escutava O ANJO e JERONIMO O HERÓI DO SERTÃO na rádio Nacional. Ouvia também Luiz Gonzaga e de quando em vez a música clássica. Incapaz de entender o sentido e a presença da dor, vagava para o pensamento abstrato que vim a usar, ou talvez homenagear no final do curta UMA CARTA montado genialmente pela querida Joana Colier. As seis horas da tarde tocava a AVE MARIA e eu pedia para desligar ou mudar de estação. Nunca senti autenticidade nas religiões do brancos. E foi a irreligiosidade de Camus, de Nietzsche, de Brecht e Tchekov que me levaram a descobrir o processo criativo. O cinema veio mesmo com TERRA EM TRANSE a meia noite no cinema Ópera que virou Casas Bahia. Me lembro de ter ficado chapado com VIDAS SECAS, OS FUZIS e o REI DA VELA no teatro Oficina. Depois veio Godard, Antonioni, Visconti, MACBETH, Orson Welles, Graciliano Ramos, Ibsen, Wajda, Bergman, Rimbaud, Strindberg, Pasolini, Stanislavski e Artaud. Não explico nem preciso explicar nada. Me deixo levar por implicações afetivas. Meu aprendizado ainda o estou vivendo na maturidade. Talvez morra tentando entender melhor o sentido da vida e do fim. Não se volta né? Mas, meus filmes falam por mim. Neles o desejo de não aparecer! Ênfase aos paradoxos dos encantamentos não mecanizados tipo MORANGOS SILVESTRES, nunca a TV ou o esporte! Faço do cinema ainda que difícil um agradecimento a vida e aos poucos amigos nessa trágica realidade chamada Brasil! País pedaço sofrido do Continente das Bananas. Sem explicação sinto-me próximo de todos os cineastas que gosto. Como numa peça inventada de Beckett, nos comunicamos pelos filmes feitos ou mesmo sonhados. Nos sonhos sinto-me parte dos insights contrário a todas as certezas. De ser para a vida sem a intencionalidade de brilhar individualmente. Mas sim com os velhos e novos amigos. É por aí que sempre caminhei! (P/ Fernando Oriente) Luiz Rosemberg Filho/Rô

Fernando Oriente