Memórias 205 Apesar da eterna falta de dinheiro faço pela inevitabilidade do desejo.
O que me faz decidir entre um Plano Próximo ou um Plano Geral? Entre um Travelling ou uma Panorâmica? Claro que contam os recursos, o cenário, o roteiro e os atores. Nunca usei a vitimização da falta de “grana” para não fazer. Faço e fazemos apesar da eterna falta de dinheiro. Não para sermos exemplos, mas pela inevitabilidade do desejo. Desejar pensar. Desejar fazer. Desejar amar… São os frutos dos meus tantos conceitos no ato da criação. Seis prêmios num festival diz alguma coisa né? Nunca rejeitei os avanços da tecnologia, mas não me importo com ela. Contar de uma maneira nova uma velha história me parece bem mais interessante como proposta. Digamos que a imagem surge do olhar e do silêncio destinada a ser pensada pelo espectador. Confesso que nunca gostei dos mecanismos de controle por parte do capital, da burocracia, dos produtores e do mercado. Mesmo que não queiram as imagens no cinema são sim múltiplas experiências de subjetividades. De nada serviu no passado o retrocesso a censura. Repita as palavras de Jean Genet: “A sociedade tal como vocês a constituem, eu a odeio. Eu sempre a odiei e vomitei.” Penso que é daí que parto para dar dimensão e prazer ao nascimento e gestação de imagens diferentes. E o ineditismo delas não precisam de explicação alguma! A imagem é sim o corpo das ideias evocando demônios e ressaltando o saber. Saber ser melhor como linguagem! Daí vomitar nas encenações sem a ousadia do olhar. Nunca me interessou essa submissão a ordem inútil da mesmice. Isso é a TV, mas nunca o cinema. Cinema é sim um projeto político de contradições niveladas pelo lado negativo. A negatividade como reconhecimento de um desempenho necessário a autoexploração de si mesmo e dos sistemas de produção e de controles. Por fim, o ser para si e para o outro numa insolvência dos nossos tantos atos conservadores e reacionários. Os temos né? Ou seja, o nascimento de uma imagem é para mim uma erupção de demônios que vão ficando pelos caminhos da linguagem. E no que se começa a escavar o subsolo de um bom filme, entre escombros chega-se ao espírito da obra. Embora minhas imagens sejam cúmplices de uma via negativa, quero pensá-las para além da dor enraizada no fim da vida. (P/Sandra Facundes) Luiz Rosemberg Filho/Rô